30 de junho de 2015

Colheita Final


"O que oferecerá à Morte, quando ela bater à tua porta?
Vou oferecer à minha hóspede a taça cheia de minha vida.
Não deixarei que ela vá embora de mãos vazias.
Colocarei diante dela a suave colheita de todos os meus dias
de outono e de todas as minhas noites de verão.
No fim dos meus dias, quando ela bater à minha porta vou
entregar-lhe tudo o que ganhei e tudo o que recolhi com
o árduo trabalho da minha vida".
Tagore - Gitanjali (1913)

Amor e Dependência



"E quantos relacionamentos são governados pelo princípio do amor, pela atenção à alteridade do outro? Quantos são sabotados pela reativação dos antigos imagos do "eu mesmo" e do outro? Quantos são debilitados pelo não engrandecimento e apoio mútuo de suas jornadas separadas, pela força do hábito, pelo medo da mudança, pela falta de permissão para se viver a própria jornada e pela recusa em aceitar as convocações para suas próprias responsabilidades? [...] O amor quer a independência de ambos os lados, liberdade, não controle, não culpa, não coerção, não manipulação. Dependência não é amor; é dependência - uma revogação da responsabilidade essencial em crescer, ter plena responsabilidade por nossas vidas."
James Hollis: A Sombra Interior - por que pessoas boas fazem coisas ruins?

Não temos presente


"Nós vivemos em uma cultura totalmente hipnotizada pela ilusão de tempo, na qual o chamado presente é sentido como uma pequena linha entre o ‘todo poderoso’ passado causativo e o 'absurdamente importante futuro’. Não temos presente. Nossa consciência está quase completamente preocupada com memórias e expectativas. Nós não percebemos que nunca houve, há, ou haverá qualquer tipo de experiência além da experiência do momento.
Portanto, nós estamos fora de contato com a realidade. Nós confundimos o mundo que é dito, descrito, e mensurado com o mundo do modo que ele na verdade é. Nós estamos doentes com uma fascinação pelo uso das ferramentas de nomes, números, símbolos, sinais, conceitos e ideias."
Alan Watts - Evolução da Consciência.

Sob o jugo da petrificação da Medusa!


"Sejamos animais humanos "parcialmente mortos para o mundo" ou animais humanos "abertamente sensíveis para o mundo", há muitos de nós sendo arrastados por uma força que percebemos como vinda de fora ou, com a mesma força, vinda de dentro, ou ainda chicoteados por ambas até que "eu" não tenho mais controle de minha própria vida. Esse "eu" não tem um sistema próprio de valores. Não é o senhor em seu próprio castelo. Todo dia a máscara, ou persona, se desempenha com perfeita eficiência, mas quando o serviço está concluído aqueles ritmos frenéticos e estranhos continuam dominando o corpo e o Ser. Não há um "eu" para dar um basta nisso, nenhum ego forte e diferenciado capaz de desacelerar e recuperar os ritmos naturais. Se esses ritmos naturais afundaram na inconsciência total, o ato de ser desaparece e, tal como o bicho espancado, neurótico, aterrorizado, o corpo tenta prosseguir com ritmos totalmente estranhos à sua natureza. A atitude de lobo que, de dia, cobra mais, mais e mais, à noite uiva "eu quero, eu quero, eu quero". Os valores da sociedade baseados na ética do trabalho e em padrões, ambições e metas perfeccionistas sustentam a atitude de lobo na selva profissional, mas a sociedade nada pode fazer para alimentar o lobo solitário à noite. Algumas pessoas se deixam levar pelo bando e afundam em álcool, sexo, comida e drogas. Em seu esforço de fugir dizem: "É melhor estar bêbado que enlouquecer, melhor estar vomitando que ficar louco, melhor ser gordo que 'pirado'". Mas não há alguém bebendo, amando, comendo ou vomitando porque não há esse alguém presente no que faz. Os instintos, dotados de um ponto natural de saciação, não estão em funcionamento. Esse vazio nunca será preenchido. Algumas pessoas que atendo no meu consultório recusam-se a deixar-se arrastar pelo bando mas, mesmo assim, caem nas garras da síndrome do lobo. Engolem a contragosto o álcool que não apreciam, devoram alimentos que não mastigam, faxinam a casa imaculada todas as noites, ou se livram de qualquer resíduo de carne que ainda reste em torno de seus pobres ossos. Acabam indo para terapia porque sabem que "isso é loucura". Seu "eu" está possuído por algum demônio sobre o qual não têm o menor controle. Esse demônio que, de dia, enverga a máscara da respeitabilidade mostra a verdadeira cara à noite. Exige perfeição — eficiência perfeita, mundo perfeito, limpeza perfeita, corpo perfeito, ossos perfeitos, mas como as pessoas são humanas e não anúncios de TV em horário nobre elas descambam no caos perfeito e na morte perfeita.
O demônio as destrói e, estando destruídas, finalmente caem no sono. O que falta é o equilíbrio que lhes devolveria qualidade à sua vida."
Marion Woodman - O Vício da Perfeição

29 de junho de 2015

Mundo Moderno


"Costuma-se afirmar que, a partir de agora, o mundo moderno é o mundo do homem, ele é quem domina o ar, a água e a terra e que o destino histórico dos povos depende da sua decisão e vontade. Esse retrato tão orgulhoso da grandeza humana infelizmente não passa de uma grande ilusão que rapidamente se desfaz diante de uma realidade tão diversa. Na realidade, o homem é escravo e vítima das máquinas que lhe arrancam seu tempo e espaço; a técnica de guerra, que deveria proteger e defender sua existência física, o reprime e ameaça; a liberdade espiritual e moral, embora ameaçada pela desorientação e pelo caos, está garantida dentro do possível apenas numa parte do seu mundo, enquanto que na outra já foi totalmente aniquilada. Por fim - onde a comédia termina em tragédia - o senhor dos elementos, essa instância de todas as decisões, cultiva uma série de idéias e concepções que selam de modo indigno sua dignidade e transformam sua autonomia em simples quimera. Todos os progressos, realizações e propriedades não o fazem grande, ao contrário, o diminuem. Isso é comprovado pelo destino do trabalhador no regime de distribuição "justa" dos bens: ele paga com o prejuízo de sua própria pessoa a sua participação na fábrica; troca sua liberdade de movimento pelo aprisionamento no local de trabalho; emprega todos os meios de que dispõe para melhorar seu posto, se não quiser se deixar explorar por um trabalho de empreitada esgotante; e quando sente o apelo de qualquer exigência espiritual, recebe prontas as sentenças de fé políticas e o suplemento de algum saber especializado. Ademais, um teto sobre a cabeça e a forragem diária do gado não são coisas desprezíveis quando as necessidades vitais podem ser reduzidas de um momento para outro."
Carl Gustav Jung - Presente e Futuro



27 de junho de 2015

Fogo que transforma


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado. Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém."
Rubem Alves - O Amor que Acende a Lua

25 de junho de 2015

Vida é Caminho



"Esta vida não é um estado de devoção, mas a conquista da devoção. Não é ter saúde, porém conquistar a saúde. Não é ser, mas vir a ser. Não é repouso, e sim atividade. Nós ainda não somos, seremos. A vida não está pronta e acabada, mas em elaboração. Não é a meta, mas o caminho".
Martin Lutero.

Coragem



"O homem deve ter a coragem de ser diferente daqueles que o circundam, quando necessário deve ter a coragem de ser bom, ainda que outros ajam mal com ele ou em torno dele".
Lipot Szondi.