8 de janeiro de 2012

A Luz está na Escuridão


Por que devemos procurar outra pessoa para nos dizer como viver? Eles mal conseguem lidar com sua vida. Por que não recuperamos a direção dentro de nós mesmos e então a vivemos no mundo? Por que deveríamos ter inveja ou ciúmes dos outros quando temos tal riqueza dentro de nós? Por que devemos nos intrometer na vida dos outros quando temos tanto trabalho com nossas próprias vidas? Somente  aceitando esses poderes inerentes que já foram dados poderemos começar a curar a divisão da Sombra e, assim, contribuirmos com nossa pequena parte para a cura do mundo.

A Sombra como um convite- é composta por aquilo que não desejo ser , minha sombra mais profunda e refratária será encontrada naquilo que mais quero evitar, isto,é,  tornar-me eu mesmo. Aquilo que procuro evitar sou eu. Achamos, então, que todas as dificuldades com o Outro começam com o Outro que está dentro de nós. Como observa Jung: "Esse processo de chegar a um acordo com o Outro em nós vale a pena, porque dessa forma aprendemos sobre aspectos de nossa natureza que não deixaríamos ninguém mais nos mostrar e que nunca seriam admitidos ".

Devemos fazer nossa experiência. Devemos cometer erros. Devemos viver a própria visão de vida. E haverá erros. Se você evitar os erros você não viverá; de certa forma pode-se dizer que toda a vida é um erro, pois ninguém ainda encontrou a verdade... então viva sua vida da melhor maneira que puder, mesmo se for com base no erro, pois a vida tem de ser desfeita, e conseguimos chegara verdade por meio do erro.
A vida que todos conduzimos a partir  das estreitas e tendenciosas lentes da consciência é um erro, um erro necessário.  Em nossas adaptações nos desviamos do caminho de nossos desejos naturais. Em nossa traidora colaboração com o medo, nós concordamos com  o menor. Mas estamos destinados a passar por esses erros e a nossa mais profunda batalha humana se encontra no ponto de encontro, o vínculo espiritual entre nossa missão de individuação e as fraquezas humanas. Quando às vezes nos encontramos, quando encontramos nossa Sombra, encontramo-nos mais completos no jogo, mais completos na arena onde o significado é vencido ou derrotado, e a vida mais completamente vivida.
O trabalho com a Sombra é uma invocação para nós, um chamado para o futuro, e carrega o princípio de nossa possível compleição. A pessoa que aparentemente não possui uma Sombra é ou ingênua e superficial ou profundamente imatura e insconsciente.
O primeiro lugar que devemos olhar ao procurar a Sombra é (1) onde estão nossos medos, (2) onde somos mais feios para nós mesmos, ou (3) para os muitos acordos diários que fazemos, as adaptações e as negações que apenas aprofundam a escuridão. Esse paradxo desafiador permanece: nunca experimentaremos a cura até que aprendamos a amar nossos lugares que não podem ser amados, pois eles também pedem nosso amor. Os lugares doentes estão doentes porque ninguém, principalmente nós, os amou.

O trabalho da Sombra requer uma disciplina, uma atitude, uma consistência de intencionalidade da parte de cada um de nós. Negociar com a Sombra é um negócio esquivo e é uma atitude tola tentar passar a perna na Sombra. Apenas o ingênuo, ou o que está sempre na defensiva, acreditará que ele ou ela poderá evitar a Sombra. Às vezes temos de abraçar esta Sombra rebelde, reconhecer estes seres sombrios como parte de nós e vivê-los mais completamente no mundo. Como Santo Agostinho recomendou, se vamos cometer um pecado, então pequemos conscientemente.

No fim, o trabalho que fazemos tem uma consequência direta não apenas em nosso bem-estar, mas no daqueles que amamos e no mundo ao nosso redor. O bem-estar dos outros depende do nosso trabalho, pois a soma de nossa escuridão individual fazem um mundo muito sombrio. Como escreveu William Stafford:

... é importante que as pessoas acordadas estejam acordadas.
Ou uma fina linha pode nos levar de volta a dormir.

E se o trabalho parecer devastador, infinito -  a vida só se torna mais interessante e fica cada vez melhor! O efeito recíproco entre a vida consciente e o mundo da Sombra é muito rico, pois traz um alcance mais completo de nossa humanidade, sem o qual seríamos superficiais ou simples e perigosamente inconscientes. Mesmo o mais consciencioso trabalho da Sombra não nos poupará momentos de desespero, dúvida e humilhação, mas como nos lembra Jung:  A razão pela qual a consciência existe, e por que existe um desejo de aumentar-se e aprofundar-se, é muito simples: sem a consciência, as coisas não vão bem..

O trabalho da Sombra sempre desafia o ego, destrona-o, abate-o, às vezes até mesmo o destrói. Este, paradoxalmente, é seu presente, se superarmos tal presente.. Ao fazermos esse trabalho, o fazemos não apenas por nós mesmos. Ao fazê-lo, descobrimos, no final, que a luz está na escuridão.
O trabalho da Sombra é pertubador, você diria? Sim... e a vida sem o trabalho da Sombra é ainda mais pertubadora. Como Shakespeare observa em Twelft Night, nenhuma prisão é mais confinadora que aquela que sabemos estar. A morte, a vida e os outros problemas são companheiros constantes. Até mesmo Prospero conclui emThe Tempest, Esta escuridão que reconheço como minha", 
E, como Goethe nos lembra:

... tanto tempo que não experimentou
isto: morrer e então crescer,
você é apenas um hóspede perturbado
sobre a terra sombria.

Fragmentos do Livro  "A Sombra Interior" - James Hollis.
LúKhayyám






6 de janeiro de 2012

Os Minutos



Os minutos que nos uniram são mais poderosos que os séculos.
E a luz que iluminou nossas almas é mais forte que as trevas.
Se a tempestade nos separa neste mar encolarizado, a maré
alta nos juntará naquela praia tranqüila, e se a vida nos matar,
a morte nos ressuscitará. 

KHALIL GIBRAN

Palavras de Osho

Existem três camadas no indivíduo humano: sua fisiologia, o corpo; sua psicologia, a mente; e seu ser, seu eu eterno. Amor pode existir em todos os três planos, mas suas qualidades serão diferentes.

No plano da fisiologia, do corpo, é simples sexualidade. Você pode chamar isso de amor, porque a palavra 'amor' parece ser poética, bela. Mas noventa e nove por cento das pessoas estão
chamando o sexo delas de amor. Sexo é biológico, psicológico. Sua química, seus hormônios – tudo que é material está envolvido nisso.

Você se apaixona por um homem ou por uma mulher. Você pode descrever exatamente porque essa mulher lhe atraiu? Certamente você não pode ver o eu dela, você ainda nem viu seu próprio eu. Você também não pode ver a psicologia dela, porque para ler a mente de alguém não é uma tarefa fácil. Então
o que é que você viu nessa mulher?

Alguma coisa na sua fisiologia, na sua química, nos seus hormônios, se sente atraído pelos hormônios, pela fisiologia, pela química da mulher. Isso não é um caso de amor; isso é um
caso químico. Pense bem: a mulher por quem você se apaixonou vai ao médico, muda de sexo, deixa a barba e o bigode crescerem. Você ainda fica apaixonado por ela? Nada mudou, somente a química, os hormônios. Para onde foi seu amor?

Somente um por cento das pessoas conhece um pouco mais profundamente. Poetas, pintores, músicos, dançarinos, cantores têm uma sensibilidade que faz com que eles possam
sentir além do corpo. Eles podem sentir as belezas da mente, as sensibilidades do coração, porque eles próprios vivem nesse plano.

Lembre-se que isso é uma regra básica: onde quer que você viva, você não pode ver além disso. Se você vive no seu corpo, se você pensar que é somente seu corpo, você só pode ser atraído pelo corpo de alguém. Esse é o estágio fisiológico do amor.

Porém, um músico, um poeta, vivem num plano diferente. Ele não pensa, ele sente. E devido a que ele vive no coração dele, ele pode
sentir o coração de outra pessoa. Isso é geralmente chamado de amor. Isso é raro. Estou dizendo talvez somente um por cento, de vez em quando.

Por que muitos não estão se movendo para o segundo plano se este é tremendamente belo? Mas há um problema: qualquer coisa muito bonita é também
muito delicada. Não é um objeto duro, é feito de vidro muito frágil. E uma vez que um espelho cai e se quebra, então não há como reuni-lo novamente.

As pessoas temem se envolverem muito e alcançar as delicadas camadas do amor, porque nesse estágio o amor é tremendamente belo mas também
tremendamente mutante.

Sentimentos não são pedras, são como rosas. É melhor ter uma rosa de plástico, porque ela estará sempre lá e todo dia você pode banhá-la e ela estará fresca. Você pode colocar algum perfume francês nela. Se a cor dela desaparecer você pode pintá-la novamente. Plástico é uma das coisas mais indestrutíveis no mundo. Ela é estável, permanente;
assim as pessoas param no fisiológico. É superficial, mas é estável.

Poetas e artistas são conhecidos por se apaixonarem todos os dias. O amor deles é
como uma rosa. Enquanto está presente ela é tão perfumada, tão viva, dançando ao vento, na chuva, no sol, declarando suas belezas. Mas à noite ela se vai, e você não pode fazer nada para impedir isso.

O mais profundo amor do coração é somente como uma brisa que chega no seu quarto, traz sua frescura, serenidade, e então se vai. Você não pode segurar o vento em suas mãos. Bem poucas pessoas são tão corajosas para viver de momento a momento, uma vida mutante. Daí, elas decidirem se entregarem a um amor do qual elas possam depender.

Eu não sei que tipo de amor você conhece – muito provavelmente o primeiro tipo, talvez, o segundo tipo. E você teme que se você alcançar seu ser, o que acontecerá ao seu amor? Certamente ele se vai – mas você não será um perdedor. Um
novo tipo de amor irá surgir o qual, talvez, só acontece a uma pessoa em milhões. Esse amor só pode ser chamado de amorosidade.

O primeiro amor deve ser chamado de sexo. O segundo amor deve ser chamado de amor. O terceiro deve ser chamado de amorosidade –
uma qualidade, não direcionada – não possessiva e que não permite ninguém mais lhe possuir. Essa qualidade amorosa é uma revolução tão radical que mesmo concebê-la é muito difícil.

Jornalistas têm me perguntado: "Por que tem tantas mulheres aqui?". Obviamente, a questão é relevante, e eles
ficam chocados quando lhes respondo. Eles não estavam preparados para a resposta. Eu disse a eles: "Sou um homem". Eles olharam para mim, incrédulos.

Eu disse: "É natural que muito mais mulheres estejam aqui, pela simples razão de que tudo que elas conheceram na vida delas foi sexo, ou em raros casos, talvez alguns momentos de amor. Mas elas
nunca chegaram a conhecer o sabor da amorosidade". Eu disse para esses jornalistas: "Mesmo os homens que vocês vêem aqui desenvolveram muitas qualidades femininas neles que estavam reprimidas pela sociedade exterior".

Desde o princípio é dito a um menino: "Você é um menino, não uma menina. Comporte-se como um menino! Lágrimas caem bem numa menina, mas não para você. Seja macho". Assim todo menino vai eliminando suas qualidades femininas. E
tudo que é belo é feminino.Então finalmente o que resta é somente um animal selvagem. Toda a função dele é reproduzir filhos.

A menina não é permitida ter qualquer coisa com qualidades masculinas. Se ela quiser subir numa árvore ela será impedida imediatamente: "Isso é para meninos, não para meninas!" Estranho! Se a menina possui o desejo de subir na árvore, isso é prova suficiente para ela ter permissão.

Todas as sociedades criaram roupas diferentes para os homens e para as mulheres. Isso não está certo; porque
todo homem é também uma mulher. Ele veio de duas fontes: o pai e a mãe. Ambos contribuíram para seu ser. E toda mulher é também um homem. Nós destruímos ambos.

A mulher perdeu toda a coragem, aventura, raciocínio, lógica, porque essas são tidas como qualidades masculinas. E o homem perdeu a graça, sensibilidade, delicadeza. Ambos
se tornaram metades. Esse é um dos maiores problemas que temos que resolver – pelo menos para nosso povo.

Meus sannyasins precisam ser ambos: metade homem, metade mulher. Isso os tornará mais ricos. Eles irão ter
todas as qualidades que estão disponíveis aos seres humanos, não apenas a metade.

No nível do ser, você simplesmente tem uma
fragrância de amorosidade.

Os jornalistas me perguntaram: "Você ama Sheela?". Eu disse: "
É claro. Mas eu amo tantas mulheres que nem mesmo sei o nome delas. E não somente mulheres – amo tantos homens, porque eles também são metade mulher". Em um milhão de sannyasins ao redor do mundo, eu não posso apontar para uma só pessoa e dizer: "Essa é a pessoa que amo".

Só posso dizer: "
Eu amo". Quem quer que esteja pronto para receber meu amor... está disponível. Então não tenham receio.

Seu medo está certo: o que você tem como amor irá embora, mas o que virá no lugar é imenso, infinito. Você será capaz de amar sem ficar apegado. Você será capaz de amar muitas pessoas porque amar uma pessoa só é manter a si mesmo pobre. Uma pessoa pode dar uma certa experiência de amor, mas amar muitas pessoas...

Você ficará surpreso que cada pessoa lhe dá um novo sentimento, uma nova canção, um novo êxtase. Consequentemente, sou contra o casamento. Na minha visão, casamentos na comuna devem ser dissolvidos. Pessoas podem viver juntas por toda a vida se quiserem, mas isso
não é uma necessidade legal.

Pessoas devem se movimentar, ter tantas experiências de amor quanto possível. Não devem ser possessivos.
Possessividade destrói o amor. E eles não devem ser possessivos porque isso novamente destrói ser amor.

Todos os seres humanos são dignos de serem amados. Não há nenhuma necessidade de
ficar acorrentado a uma pessoa por toda sua vida. Essa é uma das razões do porquê todas as pessoas ao redor do mundo parecem tão entediadas.

Porque elas não podem sorrir como você? Porque elas não podem dançar como você? Elas estão
acorrentadas com correntes invisíveis: casamento, família, marido, esposa, filhos. Elas estão sobrecarregadas com todo tipo de deveres, responsabilidades, sacrifícios. E você quer que eles sorriam e dancem e se alegrem? Você está pedindo o impossível.

Torne o amor das pessoas livre, torne as pessoas não-possessivas. Mas isso só pode acontecer se na sua meditação você
descobrir o seu ser. Não é nada para se praticar. Não estou lhes dizendo: "Hoje à noite você procure uma outra mulher apenas para praticar". Você não irá conseguir coisa alguma e você pode perder sua esposa. E pela manhã você vai parecer tolo.

Isso não é uma questão de praticar, é uma questão de descobrir o seu ser. A qualidade da amorosidade impessoal segue a descoberta de seu ser. Assim você simplesmente ama.

E isso vai se espalhando. Primeiro, nos seres humanos, depois nos animais, pássaros, árvores, montanhas, estrelas. Um dia chega quando
todo esse universo é seu amado. Esse é o nosso potencial. E qualquer um que não estiver realizando isso está desperdiçando sua vida.

Sim, você terá que perder algumas coisas, mas são coisas sem valor. Você estará ganhando tanto que você nunca pensará novamente no que você perdeu. Uma
pura amorosidade impessoal que possa penetrar no ser de qualquer um – esse é o resultado da meditação, do silêncio, do mergulhar profundo dentro de seu próprio ser. Estou simplesmente tentando lhe persuadir. Não tenha medo de perder o que você tem.

Osho, em "Death to Deathlessness

Pássaro Livre - Ranjit Maharaj