O Desvalimento - texto de Sigmund Freud
Alguns Anos atrás quando eu vivia em Porto Alegre conheci uma pessoa que me cativou com sua inteligência, bom humor... vez ou outra saímos para um bom bate-papo sempre acompanhado de vinho tinto. Ele fez um artigo sobre Freud, me enviou o artigo e pediu que eu comentasse a respeito... as linhas abaixo é parte do artigo, e que fiz meus comentários que foram de encontro a minha experiência vivida com meu Pai...
Hoje ele estaria aniversariando e completaria 75 anos. Essa é minha homenagem a ele e as saudades que sinto nesses últimos 8 anos depois da partida dele.
“Em alguns dos escuros meandros que estão por trás de minha consciência oficial, a morte de meu pai afetou-me profundamente. Eu o tinha em alta conta e o compreendia com perfeição. Sua mescla singular de sabedoria profunda e leveza fantástica significou muito em minha vida. Ao morrer, seu tempo já havia passado, mas dentro de mim a ocasião da sua morte despertou todos os meus sentimentos mais antigos. Agora me sinto absolutamente desenraizado.”
Sigmund Freud
“
Em alguns dos escuros meandros que estão por trás de minha consciência oficial"...
a morte de meu pai afetou-me profundamente. Isso eu senti além da minha pele... a intensidade, pela primeira vez eu senti o amor me tocar, foi o amor que reconheci verdadeiramente , e partiu prematuramente, consegui entender a dimensão do amor que ia dentro de mim, em relação ao meu pai, antes eu dizia as pessoas que minha relação com ele era ausente, distante, fria, não nos enxergávamos, falávamos o necessário, o silêncio prevaleceu mais que palavras (éramos estranhos um ao outro), acho que não !!
( no fundo descobri como éramos parecidos), isso mudou drasticamente após eu assumir os cuidados com a saúde dele, na época achei injusto eu ser quem estava capacitada como a cuidadora dele, por enxergar as falhas que ele teve comigo, mas eu mal sabia que iria ao encontro de algo que sempre sonhei sentir e buscava... o amor dele, o amor idealizado masculino de ser amada incondicionalmente , ao qual se tivesse experimentado quando nova faria toda diferença na busca de um parceiro, assim minha vida virou do avesso... Não estava preparada pra ser inundada com esse sentimento.
Experimentei, o amor tomar conta de mim pela primeira vez, e sabia que ele mudaria minha forma "ilusória de sentir e receber amor."
Três meses depois da morte dele , minha vida de casada findou... De forma inesperada, um terremoto , minha dor não cabia em mim, mas destinada e necessária pra vir e matar minha sede de viver !!
Eu o tinha em alta conta e o compreendia com perfeição, (no passado eu não o tinha em alta conta, mas desde que ele adoeceu e nos aproximamos , os véus caíram um a um e eu pude vê-lo de forma diferente).
Por trás daquele corpo adoecido, o contato com o cheiro e a cara da morte que se fazia presente, eu vi a coragem, a força, e a ironia muitas vezes diante dos impedimentos que a doença causou e o senso de humor que ele mantinha... só vi o medo surgir próximo da morte dele, como ele delirava coisas estranhas sobre o efeito da morfina, metadona, e pedia pra aquilo que via ir embora.
Sua mescla singular de sabedoria profunda e leveza fantástica significou muito em minha vida. (Ele era uma pessoa de hábitos simples, tinha boa formação, sabia lidar com seus negócios, era considerado um bom diplomata, um mediador das dificuldades que surgiam na família, muitos amigos e parentes vinham se aconselhar com ele, tinha o famoso bom jogo de cintura, não complicava, ao contrário , era prático e ágil pra resolver quase todos os problemas financeiros, negócios, ou apartar um problema de relação, mas no quesito relacionamento pessoal era bem fechado, pouco falava do que lá no fundo ele pudesse estar a pensar. Só vi meu pai chorar uma única vez, no dia do meu casamento.
Ele Tinha traços de uma personalidade muito timida, foi bastante reprimido com um pai muito severo e agressivo, mas quando ele saia do sério aí era complicado... Dançava maravilhosamente, adorava Frank Sinatra, as fotos de Sinatra sempre me chamaram a atenção quando jovem, meu pai tinha algo familiar , semelhanças físicas. Lembrei disso agora ... e me veio a música My Way , sobre essa música que me marcou e me marca até hoje, só posso dizer que é puro mistério o que Sr.Inconsciente pode trazer a luz da nossa consciência...
Ao morrer, seu tempo já havia passado, mas dentro de mim a ocasião da sua morte despertou todos os meus sentimentos mais antigos.
“Agora sinto-me absolutamente desenraizado.” não sei se é o mesmo sentido de desenraizado que Freud expressa quando digo isso: despertencida. Eu me senti assim por muito tempo, com sentimentos de não pertencimento , de nada e ninguém, foi difícil sentir isso , não conseguia ter apegos, me senti distante de tudo que me relacionava as minhas raízes familiares , de cidade, etc, senti um "despertencimento", como se fios, amarras tivessem sido cortadas, partidas, e pela primeira vez me senti sozinha - não era solidão, me senti fora do tempo e espaço , em tudo que dizia respeito a minha vida... estava a mercê da vida, como ela me levando pra algo desconhecido, não planejado.
Enfim, ainda tento dar um entendimento pra esse processo que se deu comigo, aos poucos percebo peças se encaixarem , como um quebra cabeças de milhares de peças, imagens se formam, dão sentido e forma pra tudo que estava sob uma densa neblina , tantas perguntas sem lembranças e porquês, isso acabou cessando aos poucos.
Hoje não busco por respostas, porque acredito que já não tenho mais tantas perguntas, elas se silenciaram... e nesse silencio que se fez eu passei a me ouvir melhor !
LúKhayyám
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