(Marcus Viana, musica, Leticia Sabatella, voz)
No céu, a mão esquerda da alvorada; eu sonho. Na taberna, uma voz escuto na algazarra - Despertai, meus pequenos, e enchei bem o copo antes que seque o vinho da vida em sua jarra. Ah! Enche o copo! De que serve repetir que o tempo sob os nossos pés já vai fugindo? O amanhã não nasceu e o ontem já morreu, porque me hei-de importar, se o dia de hoje é lindo? E ao côncavo invertido que se chama o céu, sob o qual rastejaram o vivo e o que morreu, não ergas tuas mãos, pedinte. Ele é impotente no seu girar, tal qual o somos tu ou eu. O dedo que se move escreve, e, tendo escrito, se vai. E toda a argúcia e piedade, entretanto, não o trarão de volta a mudar meia linha, nem as palavras podes apagar com o pranto. E se o vinho que bebes, o lábio que oprimes findam nesse nada que a tudo dá sumiço, imagina, então, que és; não podes ser senão o que hás-de ser - nada! Não serás menos que isso. Façamos o que é mais do que ainda há por fazer antes que também nós ao pó vamos enfim. O pó vai para o pó, sob o pó vai jazer sem vinho, sem canções e sem cantor... sem fim. É tudo um tabuleiro de noites e dias; os homens são peças, e o fado temerário com elas joga, e move, e toma, e dá o mate, e uma a uma as recolhe, e vai guardar no armário.
No céu, a mão esquerda da alvorada; eu sonho. Na taberna, uma voz escuto na algazarra - Despertai, meus pequenos, e enchei bem o copo antes que seque o vinho da vida em sua jarra. Ah! Enche o copo! De que serve repetir que o tempo sob os nossos pés já vai fugindo? O amanhã não nasceu e o ontem já morreu, porque me hei-de importar, se o dia de hoje é lindo? E ao côncavo invertido que se chama o céu, sob o qual rastejaram o vivo e o que morreu, não ergas tuas mãos, pedinte. Ele é impotente no seu girar, tal qual o somos tu ou eu. O dedo que se move escreve, e, tendo escrito, se vai. E toda a argúcia e piedade, entretanto, não o trarão de volta a mudar meia linha, nem as palavras podes apagar com o pranto. E se o vinho que bebes, o lábio que oprimes findam nesse nada que a tudo dá sumiço, imagina, então, que és; não podes ser senão o que hás-de ser - nada! Não serás menos que isso. Façamos o que é mais do que ainda há por fazer antes que também nós ao pó vamos enfim. O pó vai para o pó, sob o pó vai jazer sem vinho, sem canções e sem cantor... sem fim. É tudo um tabuleiro de noites e dias; os homens são peças, e o fado temerário com elas joga, e move, e toma, e dá o mate, e uma a uma as recolhe, e vai guardar no armário.
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