"Costuma-se afirmar que, a partir de agora, o mundo moderno é o mundo do
homem, ele é quem domina o ar, a água e a terra e que o destino
histórico dos povos depende da sua decisão e vontade. Esse retrato tão
orgulhoso da grandeza humana infelizmente não passa de uma grande ilusão
que rapidamente se desfaz diante de uma realidade tão diversa. Na
realidade, o homem é escravo e vítima das máquinas que lhe arrancam seu
tempo e espaço; a técnica de guerra, que deveria proteger e defender
sua existência física, o reprime e ameaça; a liberdade espiritual e
moral, embora ameaçada pela desorientação e pelo caos, está garantida
dentro do possível apenas numa parte do seu mundo, enquanto que na outra
já foi totalmente aniquilada. Por fim - onde a comédia termina em
tragédia - o senhor dos elementos, essa instância de todas as decisões,
cultiva uma série de idéias e concepções que selam de modo indigno sua
dignidade e transformam sua autonomia em simples quimera. Todos os
progressos, realizações e propriedades não o fazem grande, ao contrário,
o diminuem. Isso é comprovado pelo destino do trabalhador no regime de
distribuição "justa" dos bens: ele paga com o prejuízo de sua própria
pessoa a sua participação na fábrica; troca sua liberdade de movimento
pelo aprisionamento no local de trabalho; emprega todos os meios de que
dispõe para melhorar seu posto, se não quiser se deixar explorar por um
trabalho de empreitada esgotante; e quando sente o apelo de qualquer
exigência espiritual, recebe prontas as sentenças de fé políticas e o
suplemento de algum saber especializado. Ademais, um teto sobre a cabeça
e a forragem diária do gado não são coisas desprezíveis quando as
necessidades vitais podem ser reduzidas de um momento para outro."
Carl Gustav Jung - Presente e Futuro