Por que devemos procurar outra pessoa para nos dizer como viver? Eles mal conseguem lidar com sua vida. Por que não recuperamos a direção dentro de nós mesmos e então a vivemos no mundo? Por que deveríamos ter inveja ou ciúmes dos outros quando temos tal riqueza dentro de nós? Por que devemos nos intrometer na vida dos outros quando temos tanto trabalho com nossas próprias vidas? Somente aceitando esses poderes inerentes que já foram dados poderemos começar a curar a divisão da Sombra e, assim, contribuirmos com nossa pequena parte para a cura do mundo.
A Sombra como um convite- é composta por aquilo que não desejo ser , minha sombra mais profunda e refratária será encontrada naquilo que mais quero evitar, isto,é, tornar-me eu mesmo. Aquilo que procuro evitar sou eu. Achamos, então, que todas as dificuldades com o Outro começam com o Outro que está dentro de nós. Como observa Jung: "Esse processo de chegar a um acordo com o Outro em nós vale a pena, porque dessa forma aprendemos sobre aspectos de nossa natureza que não deixaríamos ninguém mais nos mostrar e que nunca seriam admitidos ".
Devemos fazer nossa experiência. Devemos cometer erros. Devemos viver a própria visão de vida. E haverá erros. Se você evitar os erros você não viverá; de certa forma pode-se dizer que toda a vida é um erro, pois ninguém ainda encontrou a verdade... então viva sua vida da melhor maneira que puder, mesmo se for com base no erro, pois a vida tem de ser desfeita, e conseguimos chegara verdade por meio do erro.
A vida que todos conduzimos a partir das estreitas e tendenciosas lentes da consciência é um erro, um erro necessário. Em nossas adaptações nos desviamos do caminho de nossos desejos naturais. Em nossa traidora colaboração com o medo, nós concordamos com o menor. Mas estamos destinados a passar por esses erros e a nossa mais profunda batalha humana se encontra no ponto de encontro, o vínculo espiritual entre nossa missão de individuação e as fraquezas humanas. Quando às vezes nos encontramos, quando encontramos nossa Sombra, encontramo-nos mais completos no jogo, mais completos na arena onde o significado é vencido ou derrotado, e a vida mais completamente vivida.
O trabalho com a Sombra é uma invocação para nós, um chamado para o futuro, e carrega o princípio de nossa possível compleição. A pessoa que aparentemente não possui uma Sombra é ou ingênua e superficial ou profundamente imatura e insconsciente.
O primeiro lugar que devemos olhar ao procurar a Sombra é (1) onde estão nossos medos, (2) onde somos mais feios para nós mesmos, ou (3) para os muitos acordos diários que fazemos, as adaptações e as negações que apenas aprofundam a escuridão. Esse paradxo desafiador permanece: nunca experimentaremos a cura até que aprendamos a amar nossos lugares que não podem ser amados, pois eles também pedem nosso amor. Os lugares doentes estão doentes porque ninguém, principalmente nós, os amou.
O trabalho da Sombra requer uma disciplina, uma atitude, uma consistência de intencionalidade da parte de cada um de nós. Negociar com a Sombra é um negócio esquivo e é uma atitude tola tentar passar a perna na Sombra. Apenas o ingênuo, ou o que está sempre na defensiva, acreditará que ele ou ela poderá evitar a Sombra. Às vezes temos de abraçar esta Sombra rebelde, reconhecer estes seres sombrios como parte de nós e vivê-los mais completamente no mundo. Como Santo Agostinho recomendou, se vamos cometer um pecado, então pequemos conscientemente.
No fim, o trabalho que fazemos tem uma consequência direta não apenas em nosso bem-estar, mas no daqueles que amamos e no mundo ao nosso redor. O bem-estar dos outros depende do nosso trabalho, pois a soma de nossa escuridão individual fazem um mundo muito sombrio. Como escreveu William Stafford:
... é importante que as pessoas acordadas estejam acordadas.
Ou uma fina linha pode nos levar de volta a dormir.
E se o trabalho parecer devastador, infinito - a vida só se torna mais interessante e fica cada vez melhor! O efeito recíproco entre a vida consciente e o mundo da Sombra é muito rico, pois traz um alcance mais completo de nossa humanidade, sem o qual seríamos superficiais ou simples e perigosamente inconscientes. Mesmo o mais consciencioso trabalho da Sombra não nos poupará momentos de desespero, dúvida e humilhação, mas como nos lembra Jung: A razão pela qual a consciência existe, e por que existe um desejo de aumentar-se e aprofundar-se, é muito simples: sem a consciência, as coisas não vão bem..
O trabalho da Sombra sempre desafia o ego, destrona-o, abate-o, às vezes até mesmo o destrói. Este, paradoxalmente, é seu presente, se superarmos tal presente.. Ao fazermos esse trabalho, o fazemos não apenas por nós mesmos. Ao fazê-lo, descobrimos, no final, que a luz está na escuridão.
O trabalho da Sombra é pertubador, você diria? Sim... e a vida sem o trabalho da Sombra é ainda mais pertubadora. Como Shakespeare observa em Twelft Night, nenhuma prisão é mais confinadora que aquela que sabemos estar. A morte, a vida e os outros problemas são companheiros constantes. Até mesmo Prospero conclui emThe Tempest, Esta escuridão que reconheço como minha",
E, como Goethe nos lembra:
E, como Goethe nos lembra:
... tanto tempo que não experimentou
isto: morrer e então crescer,
você é apenas um hóspede perturbado
sobre a terra sombria.
Fragmentos do Livro "A Sombra Interior" - James Hollis.
LúKhayyám