1 de novembro de 2009

Senhor !


Senhor, eis aqui minha biografia, meu livro de vida...
É documentário e confesso que é muito difícil escrever a vida como vós quereis...
É difícil, Senhor, escrevê-la quando não se é escritor,
quando nunca se aprendeu tal ofício.

Mas a vida não se aprende:
Toda vida é um romance novo, único no gênero, sempre
obra de primeira mão.
É difícil, Senhor, não poder copiá-lo, pois vós não aceitas plágios.
É difícil, Senhor, não poder corrigí-la.

Dela não podemos arrancar páginas mal escritas, ou apagar alguma coisa.
O que escreví ficará sempre escrito.
O que eu posso é manifestar meu arrependimento,
escrevendo páginas melhores.

É difícil, Senhor, seguir este ritmo da vida que me leva inexoravelmente adiante...
Mas obrigado, Senhor, por retratar-me das páginas passadas
em cada nova página que escrevo.

É difícil, Senhor, ir virando as folhas, dia por dia,
na angústia de não saber o dia da entrega do manuscrito...
Mas não seria, Senhor, mais angustioso ainda saber o dia e a hora?

É difícil, Senhor, não sabermos quantas folhas em branco nos restam
para desenvolver satisfatoriamente o tema...
Um dia qualquer vós me tomareis a caneta das mãos
e escrevereis debaixo do meu último rabisco:
Fim.


É difícil, Senhor, não poder reclamar, então:
"Ainda não terminei...",
porque há sinfonias inacabadas que são obras primas
e há existências longevas que nunca acertaram o tema.
Tive pena do tempo perdido...
Mas, Senhor, não tivestes minha vida, a cada instante, em vossas mãos?
Tagore


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